Tragédia em Santa Catarina
Entenda o que causou a as enchentes no estado
As enchentes da semana passada foram a maior calamidade já ocorrida em Santa Catarina. Em que pese o que possa ter havido de desídia ou incompetência por parte das autoridades na prevenção da tragédia, ela foi, sobretudo, resultado de uma combinação catastrófica de dois fatores - um meteorológico e outro geográfico.
O primeiro começou a tomar forma no dia 19 de novembro, quando um anticiclone estacionou em alto mar, na altura do Rio Grande do Sul e do Uruguai. Anticiclones são sistemas de alta pressão que, no hemisfério Sul, originam ventos em sentido anti-horário. Eles são comuns no litoral catarinense e gaúcho, de onde sopram ventos do Oceano Atlântico em direção ao continente. Isolados, não têm a força de causar grandes estragos e sua duração numa mesma região não costuma ultrapassar três dias.
Só que, desta vez, por conta de um bloqueio atmosférico, isso não ocorreu. Até sexta-feira, o anticiclone permanecia no mesmo lugar - levando ventos e também chuva para a costa de Santa Catarina. Ainda que extraordinária, a longa permanência do anticiclone não teria causado a tragédia não fosse o fato de um segundo fenômeno - o vórtice ciclônico - ter ocorrido simultaneamente a ele. Ao contrário do anticiclone, o vórtice ciclônico é um sistema de baixa pressão que atrai ventos e gira no sentido horário. Como indica o nome, ele funciona como um redemoinho nos altos estratos da atmosfera, e também não é um fenômeno estranho à região.
O problema surgiu da combinação com o anticiclone: o vórtice ciclônico suga os ventos imediatamente abaixo dele, levando-os para cima, resfriando-os e, de novo, provocando chuvas. Foi assim, por meio da ação extraordinariamente simultânea de dois fenômenos ordinários, que os índices pluviométricos na região atingiram patamares de dilúvio.
O perfil geográfico era o detalhe que faltava para desenhar a tragédia. A camada superficial que recobre o solo do Vale do Itajaí, a região mais afetada pelas chuvas, é de composição argilosa - o que faz com que se desloque mais facilmente. Encharcada pela chuva forte e constante, essa camada ficou mais pesada. Some-se a isso a extrema declividade das encostas, os desmatamentos, as ocupações desordenadas e o resultado são deslizamentos destruidores, principal causador das mortes no litoral catarinense e no Vale do Itajaí.
O risco passou despercebido das autoridades. Já sob chuva grossa, pouco antes da morte da menina Luana, a defesa civil garantiu à população de Blumenau que não havia perigo. No final da tarde daquele sábado, porém, o nível dos córregos que cortam a cidade começou a subir rapidamente. O rio Itajaí-Açu rompeu as barragens e, em poucas horas, elevou-se a 12 metros acima de seu nível normal. As chuvas provocaram deslizamentos e desmoronamentos. Como 40% da população local reside em encostas, todas as classes sociais foram afetadas.
Leia a reportagem completa em VEJA desta semana
-